Crédito do governo para reformar a casa: veja quanto custam as parcelas e se vale a pena aderir
25/10/2025
(Foto: Reprodução) G1 em 1 Minuto: o passo a passo para entrar no programa de crédito para reforma da casa
O governo lançou nesta semana o Programa Reforma Casa Brasil, que entra em vigor oficialmente em 3 de novembro e promete liberar R$ 40 bilhões em crédito para reformas e pequenas obras em todo o país. A iniciativa, voltada a famílias de diferentes faixas de renda, busca melhorar as condições de moradia e estimular o consumo.
Os juros variam entre 1,17% e 1,95% ao mês, dependendo do rendimento familiar. A Caixa Econômica Federal divulgou uma simulação com parcelas que vão de R$ 116,45 a R$ 1.167,51, conforme o valor do empréstimo, o número de meses de parcelamento e a faixa de renda. (veja mais abaixo)
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Especialistas ouvidos pelo g1 avaliam que o programa está alinhado às demandas atuais do setor de habitação, mas fazem um alerta: sem planejamento financeiro e boa execução, o sonho da casa reformada pode se transformar em dor de cabeça e desequilíbrio no orçamento familiar.
Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), explica que o programa surge como uma resposta a uma lacuna antiga da política habitacional.
“Até então, os principais programas do governo, como o Minha Casa, Minha Vida (MCMV), se concentraram na construção de novas moradias. Agora, o foco se volta ao déficit qualitativo, ou inadequação edilícia, financiando reformas e pequenas obras nas habitações já existentes.”
🏠 A chamada inadequação edilícia aparece quando uma moradia não reúne condições básicas para se viver bem. É o caso de imóveis com infiltrações, fiação antiga ou malfeita, pouca ventilação ou cômodos pequenos demais para o número de pessoas que moram ali.
Embora o conceito não seja totalmente novo — já houve iniciativas como o Construcard, linha de crédito da Caixa para compra de materiais de construção em lojas credenciadas, além de tentativas de incluir ações semelhantes no Casa Verde e Amarela —, Castelo afirma que o Reforma Casa Brasil é o primeiro esforço estruturado e acessível para financiar melhorias habitacionais de forma consistente.
O governo prevê, inicialmente, 1,5 milhão de contratações. A iniciativa complementa um novo modelo de crédito imobiliário, anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no início de outubro, um ano antes das eleições presidenciais de 2026.
Taxas reduzidas
Em um contexto de juros altos, especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que o novo programa é atraente, em especial por oferecer taxas subsidiadas e condições adaptadas à renda das famílias.
Veja as regras:
▶️ Faixa 1 - renda de até R$ 3.200: juros de 1,17% ao mês e prazo de até 60 meses para pagamento.
▶️ Faixa 2 - renda entre R$ 3.200,01 e R$ 9.600: juros de 1,95% ao mês, também com até 60 meses de financiamento.
▶️ Renda acima de R$ 9.600: juros entre 1,33% e 1,95% ao mês e possibilidade de financiar até 50% do valor de avaliação do imóvel, respeitando o limite do Sistema Financeiro de Habitação (R$ 2,25 milhões). O prazo pode chegar a 180 meses, conforme o valor contratado.
Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin), observa que, mesmo com a taxa Selic elevada — atualmente em 15% ao ano —, o programa é competitivo em relação a outras modalidades de crédito disponíveis no mercado.
“As taxas são atrativas, especialmente quando comparadas a linhas tradicionais e ao crédito consignado do governo para os trabalhadores CLT, que hoje opera com juros próximos de 5% ao mês.”
Os recursos poderão ser usados para pintura, instalações elétricas e hidráulicas, troca de piso e até construção de novo cômodo. O programa também permite que locatários solicitem o crédito, desde que as intervenções estruturais sejam negociadas com o proprietário do imóvel. (veja a lista completa de serviços abaixo)
O que pode ser reformado?
Arte/g1
Ao g1, o ministro das Cidades, Jader Filho, explicou como funciona a participação no Reforma Casa Brasil: por meio do aplicativo da Caixa, a família precisa informar qual obra pretende realizar, simular o crédito e enviar uma foto do local onde a intervenção será feita. A análise será feita por inteligência artificial.
Quem usar o crédito para fins diferentes de reformas poderá ser penalizado. Nesses casos, segundo o ministro, o beneficiário perde a taxa de juros reduzida e passa a ser cobrado como em um financiamento comum. "Na hora que você não comprovar, perde o subsídio", disse Filho.
Para ajudar quem pensa em obter o crédito para a reforma, a Caixa simulou o financiamento para rendas de até R$ 9,6 mil mensais, já que rendas superiores serão avaliadas caso a caso. (veja a seguir)
Reforma Casa Brasil: veja simulações por faixa de renda
Arte/g1
Riscos financeiros e planejamento
Apesar do potencial econômico do programa, o alto endividamento das famílias brasileiras é um alerta. Dados do Serasa apontam que, em agosto deste ano, 78,8 milhões de pessoas estavam inadimplentes, um crescimento de 8,75% em relação ao mesmo período de 2024.
Diante desse cenário, o presidente da Abefin recomenda que, antes de contratar o crédito do Reforma Casa Brasil, as famílias avaliem quatro pontos:
por que a reforma é necessária;
quanto custará;
quanto tempo levará;
e quanto será possível poupar.
Arquiteto viraliza nas redes sociais com reforma de casa simples na periferia de Brasília
Marcos Vinícius Teixeira da Silva/ arquivo pessoal
Segundo Domingos, muitos se empolgam com a ideia de reformar suas casas e acabam assumindo parcelas que nem sempre cabem no orçamento. “Mesmo com taxas de juros reduzidas, as parcelas continuam sendo uma dívida, e o financiamento deve ser contratado com planejamento cuidadoso.”
Um dos riscos é o comprometimento excessivo da renda familiar. Pelas regras do programa, o valor das parcelas será limitado a 25% da renda mensal. Outro ponto de atenção dos especialistas é o chamado “poço sem fundo da reforma”, quando obras iniciadas com orçamento modesto acabam custando o dobro ou até mais devido a imprevistos ou ampliação do projeto.
Essa elevação dos custos, inclusive, pode ser afetada por outro obstáculo: a mão de obra.
“O setor da construção civil está aquecido, e a falta de profissionais qualificados pode atrasar ou encarecer as reformas. Esse é um aspecto que precisa ser acompanhado de perto e que costuma afetar o valor final”, aponta a coordenadora do FGV IBRE.
Em contrapartida, Castelo frisa que o mercado de materiais de construção vive um bom momento, com estoques equilibrados e uma demanda em ritmo moderado – isso deve facilitar a execução das obras.
“A indústria de materiais tem estoques suficientes e capacidade para atender à demanda, enquanto o varejo vinha em um processo de desaceleração nos últimos meses. Isso deve dar um impulso à atividade tanto no comércio quanto na indústria. Não há risco de o setor não suportar o programa; pelo contrário. A questão principal é acompanhar como o programa vai alcançar efetivamente quem precisa.”
Casa própria, imóveis
Foto de PhotoMIX Company