Unicamp 2026: como revisar os livros obrigatórios da 1ª fase na véspera do vestibular
25/10/2025
(Foto: Reprodução) Unicamp 2026: veja tudo o que você precisa saber sobre o vestibular
A 1ª fase do vestibular da Unicamp 2026, que será aplicada neste domingo (26), pode exigir dos candidatos a resolução de questões que abordam nove livros indicados pela universidade. O g1 conversou com um professor de literatura para entender o que pode ser feito na véspera da prova para que os candidatos se familiarizem um pouco mais com essas obras.
🚨O principal é: para quem não leu ou não sabe se entendeu, a dica é não cair no desespero. Vinicius Teixeira, do Colégio Oficina do Estudante, lembra que a Unicamp privilegia o olhar crítico e interpretativo -- não precisa querer decorar a obra -- e é possível reforçar o conhecimento com materiais de apoio.
“A Unicamp tem um projeto chamado Cria Unicamp, com aulas no YouTube sobre as obras literárias, e o site da Comvest reúne provas anteriores com comentários e índices de acertos. É um excelente material para entender o tipo de questão que a banca elabora”, explica o professor Vinicius Teixeira.
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Temas e conexões
1ª fase do vestibular da Unicamp 2025
Antonio Trivelin/g1
Segundo Teixeira, uma das principais habilidades avaliadas no vestibular da Unicamp é a capacidade do estudante em estabelecer relações.
O docente orienta que o estudante possa usar as obras para analisar temas que estão sendo discutidos atualmente na mídia, como, por exemplo, as questões climáticas da COP 30 ou o conceito de modernização. Entenda:
📖 Meio Ambiente (COP 30): o professor destaca que o tema ambiental, central por conta da COP 30, pode ser facilmente ligado à obra ‘A vida não é útil’, de Ailton Krenak. A literatura, neste caso, serve como um motor de reflexão sobre as "relações do homem com a natureza" e a necessidade de políticas públicas que mitiguem os problemas climáticos.
📖 Tecnologia/Modernização: embora as obras não tratem diretamente de inteligência artificial ou dos avanços na tecnologia de baterias, por exemplo, o tema da modernização e seus custos sociais podem ser analisados através de autores clássicos, como Lima Barreto.
Teixeira cita ‘Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá’ para refletir sobre como o desenvolvimento e a modernização podem gerar ônus, como a marginalização de pessoas. A história se passa no Rio de Janeiro do século XX, que enfrentava reformas urbanas que contribuíram para a circulação na cidade, mas acabou por provocar o início do processo de favelização.
📖 Problemas Sociais: a literatura que aborda a "escrevivência" em ‘Olhos d'Água’, de Conceição Evaristo, pode ser cobrada em conjunto com dados e matérias do cotidiano. O conceito foi criado pela escritora brasileira para unir, como sugere o termo, a escrita e vivência.
Em edições anteriores, por exemplo, a Unicamp já conectou o conto ‘Maria’, de Evaristo, sobre o assassinato de uma mulher no ônibus, com casos de violência e fake news da época, exigindo uma análise da conexão entre a arte e crimes bárbaros na sociedade.
Prova de interpretação sem “pegadinhas”
Para Teixeira, as questões de literatura exigem dos candidatos uma extrema atenção na leitura dos enunciados e alternativas apresentadas. Característica que pode ser considerada uma vantagem, pois não é uma prova de “decoreba” e é possível encontrar pistas para as respostas no próprio texto.
“A gente tem desde Machado de Assis até textos mais contemporâneos, como a ‘A vida não é útil’ do Ailton Krenak, ‘Olhos d'Água’ da Conceição Evaristo. Então confie no enunciado, olhe para os excertos que aparecem na prova porque eles direcionam, eles organizam, eles sistematizam o pensamento para esse estudante conseguir fazer uma boa prova”, fala
O professor também reforça que a Unicamp não usa “pegadinhas” para elaborar as perguntas, mas incentiva que o estudante exercite interpretação e raciocínio. A universidade procura “alunos leitores” que conseguem fazer inferências e relacionar partes de um texto.
“Foi-se o tempo em que o vestibular fazia perguntas para confundir o aluno. Hoje, as bancas querem selecionar estudantes preparados, que saibam ler o enunciado com atenção. O enunciado é o melhor amigo do candidato: se ele for ignorado, pode se tornar o pior inimigo”, conta.
Como estudar na reta final?
📖 Provas anteriores: para o professor, o melhor método "em cima da hora" é olhar para as questões anteriores e para o material que a própria Comvest disponibiliza no seu site oficial, o que inclui, além das respostas e os comentários, os índices de acerto.
📖 ‘Cria Unicamp’: projeto com material de aulas e análises feitas por vários professores convidados sobre obras e outras disciplinas. Esse material está disponível no site da Comvest e os vídeos no canal oficial da Unicamp no YouTube.
📖 Cuidado com o ChatGPT: Teixeira não indica o uso de resumos gerados por inteligências artificiais. Ele afirma que o vestibular não busca a capacidade de memorização do estudante, mas, sim, a de fazer reflexões e a bagagem de leitura.
Outra dica é a busca por materiais de suporte para enriquecer o contato com os livros, o professor sugere procurar pela obra em outros suportes de informação:
Ailton Krenak: documentário ‘Vozes da Floresta’, entrevistas e palestras que abordam a base de oralidade do autor, que atua na luta pela proteção da natureza e dos povos originários ao menos desde a década de 1980.
Conceição Evaristo: entrevistas com a escritora. Ela está em plena produção, então, não é difícil encontrar debates que ajudem a entrar em contato com a "voz" da autora.
Para Alice no País das Maravilhas: filmes como o de Tim Burton podem ajudar na conexão, mas não substituem a leitura.
Lima Barreto: ler crônicas curtas, como Queixa de Defunto, pode ajudar a entender a mistura que o autor faz entre humor e a crítica social.
Adaptações em diversos formatos alternativos, como os audiolivros: podem apresentar outra perspectiva do texto e ser bastante interessantes.
Primeira fase x segunda fase
As questões de Literatura na Unicamp não estão restritas apenas à primeira fase, e possuem características bem específicas em cada momento. Assim, o professor falou sobre alguns pontos de atenção que precisam ser tomados:
Leitura na 1ª e 2ª fase do Vestibular da Unicamp
Lista de Obras Indicadas – Vestibular 2026
Prosas seguidas de odes mínimas (José Paulo Paes)
Olhos d’água (Conceição Evaristo)
A vida não é útil (Ailton Krenak)
Casa Velha (Machado de Assis)
Vida e morte de M.J. Gonzaga de Sá (Lima Barreto)
No seu pescoço (Chimamanda Ngozi Adichie)
Morangos mofados - Contos escolhidos (Caio Fernando Abreu)
Canções escolhidas (Cartola)
Alice no país das maravilhas (Lewis Carroll)
Como o tema foi cobrado em anos anteriores?
1ª fase 2025: O excerto a seguir, do livro Alice no país das maravilhas, de Lewis Carrol, narra o encontro entre a protagonista e o Gato de Cheshire:
O Gato apenas sorriu ao avistá-la. Alice achou que ele parecia afável. Mas como tinha garras muito compridas e dentes bem graúdos, sentiu que devia tratá-lo com respeito.
– Gatinho de Cheshire – começou a dizer timidamente, sem ter certeza se ele gostaria de ser tratado assim, mas ele apenas abriu um pouco mais o sorriso. “Ótimo, parece que ele gostou”, pensou ela, e prosseguiu: – Podia me dizer, por favor, qual é o caminho para sair daqui?
– Isso depende muito do lugar para onde você quer ir – disse o Gato.
– Não me importa onde... – disse Alice.
– Nesse caso não importa por onde você vá – disse o Gato.
– ...conquanto que eu chegue a algum lugar – acrescentou Alice como explicação.
– É claro que isso acontecerá – disse o Gato –, desde que você ande por algum tempo.
(CARROLL, L. Aventuras de Alice no país das maravilhas. Tradução de Sebastião Uchoa Leite. São Paulo: Editora 34, p. 68-69, 2016.)
A partir da leitura do trecho e da compreensão do todo da narrativa, pode-se afirmar que o excerto é um exemplo:
a) do afeto que marca o contato que Alice estabelece com os habitantes do país das maravilhas.
b) do estranhamento que Alice experimenta ao conhecer seres que não existiam no mundo de onde ela veio.
c) da descoberta, por parte de Alice, do domínio que ela tem sobre as situações no país das maravilhas.
d) da percepção, por parte de Alice, de que as palavras não têm sempre o mesmo sentido para quem as usa.
Resposta da questão: D
Assim, é correta a opção [D], pois, quando Alice pede ao Gato que lhe aponte o caminho para sair dali, o gato não responde objetivamente, pois é preciso saber qual o destino desejado.
Cena da adaptação de 1951 de Alice no País das Maravilhas
Reprodução/Walt Disney Pictures
2ª fase 2025: Em 1843, Gonçalves Dias compôs o poema “Canção do Exílio”, que serviu de inspiração a vários poetas ao longo do tempo, de que são exemplos o poema de José Paulo Paes e a canção de Chico Buarque de Holanda e Tom Jobim, reproduzidos a seguir.
Canção do exílio, José Paulo Paes
Um dia segui viagem
sem olhar sobre o meu ombro.
Não vi terras de passagem
Não vi glórias nem escombros.
Guardei no fundo da mala
um raminho de alecrim.
Apaguei a luz da sala
que ainda brilhava por mim.
Fechei a porta da rua
a chave joguei ao mar.
Andei tanto nesta rua
Que já não sei mais voltar
(PAES, José Paulo. Prosas seguidas de odes mínimas. São Paulo: Companhia das Letras, p. 19, 1992.)
Sabiá , Chico Buarque de Holanda – Tom Jobim
Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá
E é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá
Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Vou deitar à sombra de uma palmeira
Que já não há
Colher a flor
Que já não dá
E algum amor
Talvez possa espantar
As noites que eu não queria
E anunciar o dia
Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Não vai ser em vão
Que fiz tantos planos de me enganar
Como fiz enganos de me encontrar
Como fiz estradas de me perder
Fiz de tudo e nada de te esquecer
(CHEDIAK, Almir (Org.). Songbook Tom Jobim. Rio de Janeiro: Lumiar Editora, p. 88-89, 1990.)
Identifique, em cada poema, a posição do eu-lírico em relação ao exílio. Justifique sua resposta apontando elementos de ambos os textos.
Os dois poemas reproduzidos acima apresentam “negações”, a exemplo das que vemos nos versos “sem olhar sobre o meu ombro”, “não vi terras de passagem”, “não vi glórias nem escombros”, “que já não sei mais voltar”, “(...) uma palmeira que já não há”, “(...) a flor que já não dá”. Interprete comparativamente, em cada um dos poemas, o sentido da recorrência das negações.
Resposta comentada: a questão aproveita um livro da lista obrigatória “Prosas seguidas de odes mínimas”, de José Paulo Paes e, com isso, estabelece comparações com outros autores e tempos literários.
a) No poema de Paulo Paes, “Canção do exílio”, o eu lírico associa o exílio a um percurso existencial com o objetivo de crescimento e amadurecimento. As expressões como “Um dia segui viagem /sem olhar sobre o meu ombro”, “Apaguei a luz da sala”, “Fechei a porta da rua/a chave joguei ao mar” traduzem um contexto íntimo que demonstram o desejo de viver experiências. Já no poema de Chico Buarque, “Sabiá”, o eu lírico utiliza imagens nostálgicas para indicar a vontade de voltar, “Sei que ainda vou voltar / Para o meu lugar”.
b) As negações no poema “Canção do exílio” de Paulo Paes, como em “Não vi terras de passagem/Não vi glórias nem escombros” revelam a indiferença das experiências que poderão aparecer ao longo do percurso sem desejo de retorno a um passado. Já no poema de Chico Buarque, “Sabiá”, o eu lírico manifesta o desejo de retorno ao passado, “Sei que ainda vou voltar/ Para o meu lugar”, o que talvez se torne impossível pela transformação das circunstâncias políticas que ocorreram no país: “uma palmeira que já não há”, “a flor que já não dá”.
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